Vencedora do DESIGN FOR A BETTER WORLD e PRÊMIO OBJETO BRASILEIRO ::: Seleção Oficial Paris Design Week e PAD Design+Art

Trama dos Ventos: matéria, memória e reinvenção do pampa costeiro

Por Tiago Braga (@oiamodesignart)
Artesãos: Marina Ferreira, Silvane Teresinha Gonçalves, Simone Barth
e João dos Santos

A coleção Savanas nasce do encontro entre o design contemporâneo e os saberes tradicionais das bordas do sul, inspirada nas paisagens ventosas e nas formas orgânicas do litoral gaúcho. Suas texturas, criadas em tear manual com algodão reciclado — proveniente de resíduos da indústria têxtil —, evocam a força dos troncos retorcidos pelas marés e os grafismos ancestrais de matriz indígena e campeira que atravessam o território do Pampa.

Estância Nossa Senhora de Lourdes - RS - Foto: Divulgação Oiamo

Processos - Foto: Divulgação Oiamo

Cada peça é bordada à mão por artesãs da Rede de Economia Solidária de Porto Alegre, num gesto coletivo que resgata o fazer manual como forma de resistência cultural e geração de renda. A produção de baixeiros — mantas tradicionalmente usadas para proteger o lombo dos animais de montaria — é reimaginada aqui como suporte poético para narrativas visuais do sul.

Poltrona Catimbau - Foto: Sabrina Gabana

A sustentabilidade não é apenas um princípio, mas matéria da própria obra: a poltrona Catimbau, por exemplo, é produzida com madeira reaproveitada de dormentes de antigos trilhos de trem, carregando em sua estrutura as marcas do tempo e do deslocamento. O algodão reciclado, não tingido, conversa com a lã de ovelha colorida por pigmentos naturais — reforçando o compromisso com ciclos produtivos responsáveis, de baixo impacto ambiental.

Banco Caçapava - Foto: Sabrina Gabana

Finalista no Prêmio Elle Deco Brasil 2025, o banco Caçapava feito de madeira ancestral e fibras recicladas, entrelaça resíduos e memórias a partir da cultura da atenção, em um território de afeto e reinvenção sulina. Mais do que objetos, as peças da coleção Savanas Sulinas propõem uma ética do reencontro com os materiais, com a história dos territórios e com as pessoas que os habitam. Um convite a sentir com as mãos o sopro dos ventos do mar de dentro.