Vencedor dos prêmios DESIGN FOR A BETTER WORLD e PRÊMIO OBJETO BRASILEIRO ::: Seleção Oficial Paris Design Week e PAD Deisng+Art

Alessandra e Tiago na Aldeia Kaaguymirim/RS - Foto: Lufe Torres

 

PESQUISA & DESIGN DO IMAGINÁRIO GAÚCHO BRASILEIRO

Oiamo é um atelier nômade do Rio Grande do Sul criado pelo artista, pesquisador e designer Tiago Braga, premiado no Design For a Better World 2024, nomeado oficialmente pelo comitê Global Sustainable Association (GSA) para o Kyoto Global Design Awards 2023 na categoria “Best 100” e vencedor do Prêmio de Design Bornancini na categoria Impacto Econômico e Cultural. A ancestralidade da marca valoriza a materialidade natural e orgânica, enriquecida pelo saber fazer manual. 

Dos objetos utilitários e artefatos têxteis até as coleções seriadas e obras únicas valorizam a materialidade natural e orgânica, enriquecida pelo saber-fazer artesanal. Em sintonia com a cultura material e imaterial sulina, a Oiamo resgata técnicas ancestrais e atualiza as tradições da lã artesanal gaúcha. Ao propor uma reflexão sobre a própria cultura e identidade, Braga oferece uma experiência estética e sensorial que reinterpreta e reinventa a herança cultural da região meridional.

O olhar sensível e atento captura o ritmo da paisagem do extremo sul brasileiro e o clima frio, contrastando com o Brasil tropical. Essa diversidade se manifesta em visões poéticas de cenários e instalações, enriquecendo a prática do artesanato e valorizando o modo de vida ancestral. O processo criativo é influenciado pelo intercâmbio cultural, respeitando o fluxo do tempo e o uso completo da matéria-prima, transmitido oralmente de geração em geração e projetado no encontro entre arte, design e artesanato. O resultado é uma experiência que celebra a multiplicidade de ideias e aprimora as colaborações com coletivos de artesãs, expandindo memórias além das fronteiras.

 

 

Croquis de estudos no atelier de Tiago Braga em Porto Alegre/RS - Foto: Lufe Torres

 

Seus projetos combinam habilidades tradicionais, como tricô, tear, crochê, bordado, cestaria e marcenaria com elementos contemporâneos. Inspiradas pela vida rural, litorânea e urbana, as criações exploram de forma inovadora a riqueza das fibras naturais, como bananeira, bambu, vime, algodão reciclado e lã pura, de maneira sustentável. Mesclando formas, materiais, cheiros e cores - do tradicional ao contemporâneo. Ampliando a prática do artesanato e do modo de vida ancestral, como valor a ser resgatado.

Rosa Sales, etnia Kaingang - Foto: Divulgação

 

Tradições expandidas

Nas décadas de 80 e 90, o processo de industrialização modificou muito o mercado substituindo as fibras naturais pelas fibras sintéticas, os trabalhos manuais e artesanais se tornaram obsoletos, desvalorizados. Pode-se dizer até que o desenvolvimento do design erudito e industrial no Brasil se deu em campos opostos as tradições artesanais. A Oiamo surge na contramão do fenômeno de industrialização e da “boa forma internacional” no design desconectado das culturas locais em prol da forma “adequada” para se repetir indefinida e independentemente do tempo e do lugar.

A partir de imersões realizadas nas comunidades, o designer Tiago Braga centra seus estudos nas práticas, saberes e valores tradicionais, mapeando as características que constituem o modo de vida das comunidades. O processo criativo respeita a expressividade do tempo, da matéria-prima local e simbólica, na integralidade do seu manejo e espiritualidade, que são transmitidos através da oralidade, de geração em geração, manifestados pelo saber-fazer guardado na voz do coração. Para a tecelagem e o bordado manual, tradicionais do Sul para produção de palas e ponchos, Tiago traz textura única das fibras vindas de resíduos da indústria têxtil. O território, as pessoas, o saber-fazer ancestral junto do “olhar estrangeiro” do designer pesquisador se tornam grandes semantizadores de novos artefatos culturais que ampliam memórias para além do seu território cultivado.

 

Marina no tear trabalhando com tecido de algodão reciclado em Gravataí/RS - Foto: Lufe Torres

 

Mirian tricotando com fibras naturais em Osório/RS - Foto: Lufe Torres

 

Presença e reconhecimento internacional

As coleções da Oiamo são destaque em renomadas curadorias nacionais e colabora com profissionais e marcas de prestígio, como a FARM RIO, empresa brasileira sustentável de moda com forte presença internacional. A Oiamo tem se destacado internacionalmente ao participar de importantes eventos de design, como a PAD London, PAD Paris, Paris Design Week e a Semana de Design de Milão, evidenciando a excelência do design brasileiro aliado à inovação, sustentabilidade e preservação cultural. Em 2024, a marca apresentou coleções como "Arandu Estelar" e "Rizomas", que foram amplamente reconhecidas, incluindo uma matéria no Financial Times. Suas colaborações com comunidades locais, como a Associação Ladrilã e a Redeiras do extremo sul do Brasil, destacam seu compromisso com o upcycling e o resgate de técnicas artesanais. Além disso, a Oiamo foi premiada com o Ouro no Prêmio Bornancini e nomeada para o Kyoto Global Design Awards 2023, consolidando sua posição no cenário global de design sustentável.

 

Karine Portela tecendo fio de rede de pesca na Colônia de Pescadores Z3/RS - Foto: Lufe Torres

 

 

Projeto Serra do Mar

Arroio Grande fica no litoral do Rio Grande no Sul em meio a Mata Atlântica, emoldurado por montanhas e banhado pelo mar, por isso chamado de Serra do Mar é formado por muitos imigrantes, principalmente italianos que em ali se estabeleceram. A economia local é eminentemente agrícola tem como produção primária os produtos hortigranjeiros como a banana. Por isso, a fibra de bananeira emerge como potencial geradora de renda às mulheres rurais.

O Projeto Caraá traz um novo olhar para o artesanato de subsistência do imaginário rural das famílias desde lugar, e aumenta o potencial de geração de renda para estas comunidades. O cesto de palha que, originalmente era visto apenas como utilitário para uso no dia-a-dia torna-se um objeto que guarda uma cultura. Essa alternativa mobilizou uma rede de mulheres que trançam a fibra que antes era descartada pelos os donos das plantações. Com isso, expandem a prática do artesanato e do seu modo de vida, como ativo a ser preservado, protegido e tornado valorizado no mundo contemporâneo.

Rosane costurando cestaria de fibra de bananeira no Caraá/RS - Foto: Lufe Torres